17.10.06
Brincadeirinha
Era uma terça-feira, 26 de setembro. Choperia do Sesc Pompéia, zona oeste de Sampa. Projeto Prata da Casa, com curadoria do Pedro Alexandre Sanches. Um show gratuito, com um público relativamente bom, considerando que a artista a se apresentar era uma total desconhecida.
Érika Machado, que é de Belo Horizonte (MG), iria fazer sua primeira apresentação na capital paulista, além de lançar seu primeiro álbum, No cimento. Por volta das 21 horas, sua banda, formada por cinco músicos, subiu ao palco. Ouviram-se os primeiros acordes do som de Érika.
Instantes depois, escaleta azul na mão, Érika aparece. Tem feições de menininha: pequenininha, roupinhas delicadamente infantis, vozinha de criança e uma mania chatinha de usar muitas palavras no diminutivo.
Érika Machado é, além de cantora e compositora, artista plástica. Talvez, seja artista plástica, sobretudo. Seu envolvimento com a música começou em 2003, ano em que ela e outros 11 artistas de BH publicaram um jornal em que divulgavam que cada um deles colocaria sua obra em um ponto da cidade. Érika gravou um “disquinho” (sic) e o pôs à venda em alguns camelôs. Ela mesma ressalta: “Mas não era camelô de disco pirata, era camelô de disco usado”. Com esse projeto, ela vendeu 750 cópias do EP (Extended Play). Sob qual título? O disquinho.
Sua música soa como algo já ouvido antes, talvez seja essa sonoridade mais ou menos mineira de que bandas como Pato Fu e Skank compartilham, em maior ou menor escala. Na verdade, soa bastante como a banda de John Ulhôa e Fernanda Takai.
Uma rápida olhada na filipeta distribuída pelo Sesc e o óbvio se fabrica: John Ulhôa produziu No cimento. Multiinstrumentista competente, produtor afiado e antenado, John conseguiu -não sei se deliberadamente- imprimir à música de Érika bastante da sonoridade do Pato Fu, seja pela instrumentação semelhante ou pelos arranjos cheios de climinhas e nuances. Talvez eu apenas esteja dizendo isso porque Érika deixa no ar a (forte) impressão de querer -e conseguir- imitar Fernanda Takai.
Dos “disquinhos” de camelô para um “discão” de gravadora, com produtor bacana e tudo, foi um passinho. Érika conseguiu patrocínio da Lei Estadual de Cultura de MG e o resto é história.
Mas qual a história por trás da música dela?
Como é artista plástica, Érika fez as ilustrações de seu disco, de sua página na internet e o pano de fundo que usa no palco. Tudo muito lúdico. Infantil, mesmo. E isso não é um juízo de valor. Basta ver o exemplo da letra de Eu (o Pato Fu tem uma canção homônima):
“Eu não sabe de tudo/Eu não sabe de nada/Eu sabe muito bem de tudo que acha legal//Eu se entristece/Depois eu esquece/Eu vai sair por aí pra passear se divertir/Eu vai sair por aí vai passear se divertir”
Essa é sua melhor letra. A linguagem é toda marcada pela fala da criança, o que casa muito bem com sua vozinha. Harmonicamente, a canção também é boa, com momentos quase acústicos e trechos pesados, com guitarra distorcida. Mas o curioso -e talvez aí entre a mão do produtor John- é que, embora distorcida, não perde definição e com isso mantém em destaque a singeleza do vocal.
O trabalho de Érika como artista plástica também é recheado de referências lúdicas. Aliás, estava o usando o termo infantil e não lúdico. Ela já tentou distribuir por BH uma moeda fictícia que batizou de “fabriqueta”. Em No cimento, ela incorporou também sons que nos remetem a nossas mais tenras idades: barulhinhos de vídeo-games, timbres eletrônicos sutis e sua própria escaleta azul dão um ar carinhoso às músicas.
Veste-se como uma garota inocente. Mas em sua inocência, já se vêem traços de indignação e de carência de gente grande. Escute canções como Robertinha, que questiona a lógica do consumismo e Enquanto tudo acontece e o tempo que passa passa passa. E ela é mesmo inocente, basta ouvir a ingênua sinceridade de Secador, maçã e lente para compreender que a criança pode ensinar muito ao adulto em que existe.
Érika Machado não é nenhuma novidade. Ela não traz nada de novo em termos de estilo ou de poesia. E, ainda assim, sua música agrada de imediato. Talvez não gere fãs ardorosos, talvez não grave outro disco, mas deixa uma boa impressão. Érika Machado não é como Mafalda ou Calvin. Muito menos Charlie Brown. Ela se comporta como a criança que lança a pergunta mais impertinente da maneira mais amoral possível. E com um sorriso largo na cara.
Érika Machado, que é de Belo Horizonte (MG), iria fazer sua primeira apresentação na capital paulista, além de lançar seu primeiro álbum, No cimento. Por volta das 21 horas, sua banda, formada por cinco músicos, subiu ao palco. Ouviram-se os primeiros acordes do som de Érika.
Instantes depois, escaleta azul na mão, Érika aparece. Tem feições de menininha: pequenininha, roupinhas delicadamente infantis, vozinha de criança e uma mania chatinha de usar muitas palavras no diminutivo.
Érika Machado é, além de cantora e compositora, artista plástica. Talvez, seja artista plástica, sobretudo. Seu envolvimento com a música começou em 2003, ano em que ela e outros 11 artistas de BH publicaram um jornal em que divulgavam que cada um deles colocaria sua obra em um ponto da cidade. Érika gravou um “disquinho” (sic) e o pôs à venda em alguns camelôs. Ela mesma ressalta: “Mas não era camelô de disco pirata, era camelô de disco usado”. Com esse projeto, ela vendeu 750 cópias do EP (Extended Play). Sob qual título? O disquinho.
Sua música soa como algo já ouvido antes, talvez seja essa sonoridade mais ou menos mineira de que bandas como Pato Fu e Skank compartilham, em maior ou menor escala. Na verdade, soa bastante como a banda de John Ulhôa e Fernanda Takai.
Uma rápida olhada na filipeta distribuída pelo Sesc e o óbvio se fabrica: John Ulhôa produziu No cimento. Multiinstrumentista competente, produtor afiado e antenado, John conseguiu -não sei se deliberadamente- imprimir à música de Érika bastante da sonoridade do Pato Fu, seja pela instrumentação semelhante ou pelos arranjos cheios de climinhas e nuances. Talvez eu apenas esteja dizendo isso porque Érika deixa no ar a (forte) impressão de querer -e conseguir- imitar Fernanda Takai.
Dos “disquinhos” de camelô para um “discão” de gravadora, com produtor bacana e tudo, foi um passinho. Érika conseguiu patrocínio da Lei Estadual de Cultura de MG e o resto é história.
Mas qual a história por trás da música dela?
Como é artista plástica, Érika fez as ilustrações de seu disco, de sua página na internet e o pano de fundo que usa no palco. Tudo muito lúdico. Infantil, mesmo. E isso não é um juízo de valor. Basta ver o exemplo da letra de Eu (o Pato Fu tem uma canção homônima):
“Eu não sabe de tudo/Eu não sabe de nada/Eu sabe muito bem de tudo que acha legal//Eu se entristece/Depois eu esquece/Eu vai sair por aí pra passear se divertir/Eu vai sair por aí vai passear se divertir”
Essa é sua melhor letra. A linguagem é toda marcada pela fala da criança, o que casa muito bem com sua vozinha. Harmonicamente, a canção também é boa, com momentos quase acústicos e trechos pesados, com guitarra distorcida. Mas o curioso -e talvez aí entre a mão do produtor John- é que, embora distorcida, não perde definição e com isso mantém em destaque a singeleza do vocal.
O trabalho de Érika como artista plástica também é recheado de referências lúdicas. Aliás, estava o usando o termo infantil e não lúdico. Ela já tentou distribuir por BH uma moeda fictícia que batizou de “fabriqueta”. Em No cimento, ela incorporou também sons que nos remetem a nossas mais tenras idades: barulhinhos de vídeo-games, timbres eletrônicos sutis e sua própria escaleta azul dão um ar carinhoso às músicas.
Veste-se como uma garota inocente. Mas em sua inocência, já se vêem traços de indignação e de carência de gente grande. Escute canções como Robertinha, que questiona a lógica do consumismo e Enquanto tudo acontece e o tempo que passa passa passa. E ela é mesmo inocente, basta ouvir a ingênua sinceridade de Secador, maçã e lente para compreender que a criança pode ensinar muito ao adulto em que existe.
Érika Machado não é nenhuma novidade. Ela não traz nada de novo em termos de estilo ou de poesia. E, ainda assim, sua música agrada de imediato. Talvez não gere fãs ardorosos, talvez não grave outro disco, mas deixa uma boa impressão. Érika Machado não é como Mafalda ou Calvin. Muito menos Charlie Brown. Ela se comporta como a criança que lança a pergunta mais impertinente da maneira mais amoral possível. E com um sorriso largo na cara.
ander_laine gostou do show. Talvez não o visse outra vez.
em off: sutil mudança de diagramação. Percebeu?