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20.6.06

O sexo deles 


Não, seu idiota, não sou Gay Talese. Sou HST!
O ano era 1980. O evento era um lançamento de livro. O autor era Gay Talese. O livro era uma bomba: polêmico, aguardado, pesquisado. Àquela época, Gay Talese já era Gay Talese. Ele já havia publicado O Reino e o Poder, a “biografia” não-autorizado do jornal The New York Times e o livro de reportagens Fama e Anonimato (também editado, nos anos 1970, como Aos Olhos da Multidão), entre outros. Mas dessa vez seria diferente, completamente diferente. Dono de uma paciência notável, Talese não se furtava a aguardar pelo objeto de seus textos. Nem desanimava ao ouvir um não. Persistente e meticuloso, passara nove anos pesquisando e preparando aquele livro. O assunto também fortalecera o mito que estava se criando a respeito: um mergulho sem concessões no mundo da sexualidade classe-média estadunidense.

Mas o lançamento do livro decepcionou muitos leitores e críticos. Era, de fato, uma reportagem e não um livro de narrativas eróticas, excitantes. Era mesmo um estudo, digamos assim, da revolução sexual (com todas as signifcações que se queira dar ao termo) que ocorrera nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos. Aos que aguardavam linhas de deleite quase pornô, Talese trouxe conhecimento, análise e... verdade.

Contrariando os chatíssimos manuais de redação dos jornalões, e fiel ao estilo do Novo Jornalismo (muito embora o próprio autor refute este rótulo, como ele mesmo afirmou em entrevista a Cassiano Elek Machado no jornal Folha de S. Paulo, em 16 de março de 2002) Talese passou de mero observador a personagem de seu livro. Claro que não da mesma forma que Hunter S. Thompson, o doutor Gonzo, fazia, mas de maneira a evitar que ele mesmo se tornasse “evasivo”, numa tentativa de “me esconder por trás da minha faceta repórter”. Desta maneira, Talese não apenas freqüentou orgias, clubes de massagem e de nudismo, como participou de tudo isso. Chegou até mesmo a se tornar gerente de uma casa de massagens. E traiu sistematicamente sua mulher, a editora Nan Talese.

O livro A Mulher do Próximo (Companhia das Letras, 2002, tradução de Luciano Vieira Machado), no entanto, não é apenas o retrato de como a classe média estadunidense encarou as mudanças na moralidade. Além disso, o autor descreve todo o contexto anterior que levou àquele comportamento, das revistas de nus disfarçadas de revistas fotográficas ou de fisiculturismo às leis sobre a sexualidade em diversos estados do país. E, seguindo seu princípio de verdade, revela com nome e sobrenome (verdadeiros, é claro) seus personagens e as relações deles com o amor livre, o ciúme e a sexualidade.

Revista de mulher pelada?

Um dos personagens centrais do livro e, de acordo com Talese, a pessoa mais importante para a sexualidade estadunidense do século XX, é o fundador da revista Playboy, Hugh Hefner. Sua importância não é apenas de ter criado uma revista de mulheres nuas, que desafiasse o moralismo. Isso já havia antes dele, em diversas áreas, incluído aí o editor Samuel Roth, que se gabava de ser o primeiro a enfrentar os censores de Ulisses, de James Joyce. Foi por influência (e insistência) de Roth que um juiz “elevou” o megalômano volume da categoria de obra “obscena” para a de obra “de arte”.

A importância de Hefner foi no sentido de mudar a relação entre a modelo nua e o leitor. A Playboy mostrava suas modelos encarando a câmera e, dessa forma, estabelecendo contato com o leitor. Dessa forma, Hefner fez com que as pessoas se tornassem imunes à nudez, coisa impensável na época e que hoje está banalizada, especialmente na publicidade e, vez por outra (atenção para a ironia), no jornalismo. Depois, alguns anos mais tarde (a Playboy foi lançada em 1953 e sua primeira capa foi a “primeira-dama-não-oficial” Marilyn Monroe), Larry Flint, fundador da Hustler, iria pulverizar essa relação e explicitar a nudez. Mas já no contexto da revolução sexual dos anos 1960.

Curiosamente, a Playboy e Hefner nasceram em Chicago, uma das cidades mais rigorosas no aspecto da sexualidade e da moralidade.

Gente comum

O grande trunfo de A Mulher do Próximo, no entanto, é mostrar como pessoas normais, de determinada classe social, se envolveram com essa nova relação com sua própria sexualidade e os valores que estavam postos para eles e quais outros valores deveriam ser questionados.

Além disso, Talese discorre sobre sessões de tribunais tentando definir e legislar sobre erotismo, pornografia e sexualidade num embate entre censura e liberdade de expressão.

O autor mostra como pessoas que teriam tudo para se ater ao American way of life (a mesma falácia que Hunter Thompson ajudou a desmontar) recusavam, ainda que inconscientemente, a moralidade dos Estados Unidos do período. É o caso de um casal que vê sua vida completamente mudada após se envolverem com John e Barbara Williamson, idealizadores de Sandstone, uma das mais prósperas comunidades de amor livre dos EUA.

Por uma dessas coincidências e ironias históricas, A Mulher do Próximo foi lançado poucos meses antes de se detectar, nos EUA, o primeiro caso de Aids. Além disso, a reportagem municiou certa parte da sociedade, dando-lhes argumentos de que a Aids só havia surgido devido a este comportamento “pernicioso” da população estadunidense. Claro que estes não são argumentos com que Talese corrobora.

De qualquer modo, o livro, além de ser uma aula de jornalismo, é um retrato extremamente fiel do comportamento privado dos estadunidenses nos anos 1960 e 1970 e, ainda hoje, leitura obrigatória. Especialmente se você quiser entender de onde veio e para onde vai (presumivelmente) o moralismo daquele país. Alguém aí disse o nome do Mr. President?

ander_laine NÃO é Gay Talese

em off: esse texto é a prova máxima de que é possível falar de um assunto sem ter nenhum conhecimento. Nunca cheguei nem perto de uma edição do livro. Ainda assim, tento enganar meus semelhantes. Continuem agora com a farsa de fraldas GERIÁTRICAS, um lugar onde nada é o que parece ser. Aliás, um lugar onde nada é.

sACal
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LegAL
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bmw placa bmw
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piada
ouro
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sarcasmo
frenar
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irreverência
dourado
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cerveja
swarowsky
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light
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sexo
hipocrisia
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magrelas
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estética
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