2.3.06
Negra música
André Abujamra (voz, guitarra, teclados e sequencers) e Maurício Pereira (voz e saxofones) fundaram Os Mulheres pouco depois de se conhecerem, em 1984. Eles ensaiavam, compunham e gravavam num laboratório em Santa Cecília, bairro no centro da cidade de São Paulo. E laboratório é a melhor definição. O som deles era experimental, sem nenhuma preocupação radiofônica. Tudo isso encarado com muito bom-humor, como definem em Xarope - a levadinha, música que encerra o primeiro disco da banda (Música e Ciência, 1988 - Warner) e afirma os “princípios da banda”: “nosso objetivo é fazer música pop e quem sabe algum dia ficar rico e xarop”.
Em 1990 lançaram seu segundo e último álbum, Música Serve pra Isso (Warner). Aqui as canções eram mais trabalhadas e até mesmo alguns instrumentos foram adicionados: baixo, bateria, cítara. Os Mulheres Negras se separaram em 1992.
Música e Ciência
Os únicos instrumentos que usavam, além das vozes, eram saxofones, guitarras e teclados. Os outros eram controlados via Midi ou por sequencers. Dessa maneira, poderiam construir arranjos complexos e soar, de fato, como uma big band. As canções que criaram eram recheadas de referências musicais e explicações científicas.
No encarte, destaque para os instrumentos que criavam, como Tenorserra -motor de moto-serra acoplado a um sax tenor- e notas do autores para as composições, com as tais explicações científicas.
Permeando as composições dos Mulheres, vários temas de obras conhecidas e consagradas: Summertime, Peter Gunn, While My Guitar Gently Weeps. Muita ruidagem e timbres eletrônicos, mas tudo com um ar meio tosco. Proposital: “num estúdio dotado de equipamentos eletrônicos bastante sofisticados, tentamos produzir artificialmente condições terceiromundistas de gravação, obtendo assim uma sonoridade de radinho de pilha com pilha fraca”.
Música Serve Pra Isso
Com a abordagem científica deixada de lado, Os Mulheres Negras puderam explorar mais o lado “comercial” de suas canções. A inclusão de instrumentos reais e a participação de outros músicos, como os vocalistas da banda Inimigos do Rei, o baixista Arthur Maia entre outros, enriqueceu a sonoridade da dupla e mudou drasticamente o timbre deles: agora os instrumentos não mais soavam como sintetizados por um computador.
Os dois grandes sucessos dos Mulheres, se é que podemos chamá-los assim, são desse álbum: John e Só Tetele. Chegaram até a tocar nas rádios. A experimentação e invenção de instrumentos deu lugar a uma experimentação com os instrumentos. Eles passaram a explorar mais seus limites físicos, especialmente dos saxofones. Não era incomum ver Maurício Pereira berrando dentro do sax ou tocando-o de forma nada ortodoxa, produzindo ruídos e barulhinhos esquisitos.
Os Mulheres Negras quando se apresentavam ao vivo vestiam sobretudo e um chapéu de palha. Nessas ocasiões não usavam nada além de guitarra, sax, seqüenciadores e teclados midi. A performance também era indispensável. Com ela, faziam com que seus shows fossem mais engraçados e “interativos”: a platéia tinha participação ativa, fosse cantando trechos da música a pedido da dupla, ou entrando nas brincadeiras propostas.
De acordo com o próprio Abujamra, ele e Pereira não estavam separados, mas não tocavam mais juntos. Foi assim durante dez anos. Em 2002, para celebrar a edição de sua discografia em CD, os dois se juntaram para uma curta série de shows. Outro fato interessante do grupo é que todas as composições eram assinadas pelos Mulheres. Tudo era feito, nas palavras de Pereira, “meio junto”.
Atualmente, Os Mulheres Negras são a terceira menor big band do mundo.