21.7.05
Gonorréia
ou, O dia em que matei a lagartixa
Quando era pequeno, tinha uma lagartixa que morava no banheiro do meu quarto. Eu a batizei Gonorréia e a chamava carinhosamente de Gonô. E ela me acompanhou por toda a vida, até que, finalmente aos 18 anos, mudei de casa. Fiquei, é claro, um pouco triste por ter de me separar de Gonô após tantos anos juntos. Mas, fazer o quê? Quando me mudei pra cá, descobri que Gonô havia vindo junto. Mas agora não morava mais no banheiro. Não, agora Gonô era habitante do jardim, perto da garagem.
Um dia desses, em companhia da patroa, fumávamos um baseado. Nada de mais, maconha comum. Eis que Gonô aparece, talvez atraída pela minha presença, talvez atraída pelo cheiro adocicado que pairava no ar. Não resisti e fui compartilhar com ela a felicidade verde. E soprei fumaça por todo seu corpo. Não sei se, assim como os anfíbios, os répteis também fazem respiração cutânea -verificarei-, mas sei que ela aproveitou um bom pega.
Alguns minutos depois, já sob o efeito do psicotrópico, Gonô começou como que uma "dança louca do barato": todo seu corpo tremia, suas perninhas se levantavam, seu rabo se mexia tanto longitudinal quanto transversalmente, e sua barriga aos poucos foi se soltando do teto. Previ que Gonô iria cair, mas, na hora em que o pior ocorreu, não tive reflexos para apanhá-la. Caiu no chão, de uma altura de mais de dois metros. Não teve força para se mover, ficou apenas ofegante no chão. Mexeu-se mais um pouco, até a parede, mas permaneceu no chão.
Ofegando, muito ainda.
Achei que a tivesse matado. Quer dizer, não eu, mas a queda que eu propiciara. Subimos, eu e a patroa, para dormir. Magoados com a perda da velha amiga. A surpresa foi que, no dia seguinte, quando voltamos ao jardim, o pequeno cadáver não estava mais lá.
Talvez Gonô tenha sobrevivido. Não fora a primeira vez que ela caiu sobre mim: na outra casa já havia visto ela cair do teto sobre meu corpo. Mas, naquele momento, estávamos ambos caretas e ela teve agilidade suficiente para correr de volta a seu esconderijo.
Quando a encontrar de novo, fumaremos outro juntos. Tenho certeza de que gostou.
Gonô, tenho saudades.
Um dia desses, em companhia da patroa, fumávamos um baseado. Nada de mais, maconha comum. Eis que Gonô aparece, talvez atraída pela minha presença, talvez atraída pelo cheiro adocicado que pairava no ar. Não resisti e fui compartilhar com ela a felicidade verde. E soprei fumaça por todo seu corpo. Não sei se, assim como os anfíbios, os répteis também fazem respiração cutânea -verificarei-, mas sei que ela aproveitou um bom pega.
Alguns minutos depois, já sob o efeito do psicotrópico, Gonô começou como que uma "dança louca do barato": todo seu corpo tremia, suas perninhas se levantavam, seu rabo se mexia tanto longitudinal quanto transversalmente, e sua barriga aos poucos foi se soltando do teto. Previ que Gonô iria cair, mas, na hora em que o pior ocorreu, não tive reflexos para apanhá-la. Caiu no chão, de uma altura de mais de dois metros. Não teve força para se mover, ficou apenas ofegante no chão. Mexeu-se mais um pouco, até a parede, mas permaneceu no chão.
Ofegando, muito ainda.
Achei que a tivesse matado. Quer dizer, não eu, mas a queda que eu propiciara. Subimos, eu e a patroa, para dormir. Magoados com a perda da velha amiga. A surpresa foi que, no dia seguinte, quando voltamos ao jardim, o pequeno cadáver não estava mais lá.
Talvez Gonô tenha sobrevivido. Não fora a primeira vez que ela caiu sobre mim: na outra casa já havia visto ela cair do teto sobre meu corpo. Mas, naquele momento, estávamos ambos caretas e ela teve agilidade suficiente para correr de volta a seu esconderijo.
Quando a encontrar de novo, fumaremos outro juntos. Tenho certeza de que gostou.
Gonô, tenho saudades.