11.4.05
Reflexão acerca de um passeio inocente sob uma garoa comum
Chovia uma chuva fina. Depois dos clichês, só lhe restavam as alternativas. Com todas as possibilidades semânticas da palavra. No meio da chuva, caminhava. De leve, suavemente, como uma ave. Sem sentido. Nem destino. Sem vontade. Gostava de caminhar, era um andarilho. Ou quase. Tinha fama de solitário e anti-social, mas era só tímido. Não gostava de frases curtas, telegráficas. Como essas. Mas seguia sua vida como se nada acontecesse. E nada acontecia, de fato. Só o tempo continuava, inabalavelmente, a passar. Também detestava advérbios. Especialmente os que se fazem irresponsavelmente, apenas adicionando-se o sufixo mente a virtualmente qualquer palavra. Nada fazia, nada acontecia. Não era engraçado nem sem-graça. Nem sabia mesmo se era. Talvez fosse. Só não conseguia determinar o que poderia, eventualmente, ser. Se é que seria ou era ou foi ou fosse ou será. Será? Quer dizer, não se sabe muito bem do que se trata até que seja tarde demais, certo? Errado. Ele era errado de tudo e detestava as aliterações que teimavam em aparecer nos textos que lia. Talvez devesse ler outras coisas. Mas não sabia muito bem o que ler. Não tinha um senso-crítico muito apurado, não sabia escolher coisas por si próprio. E assim seguia seu caminho. Distraído. Infeliz. Sem mais adjetivos, por favor. Vamos poupá-lo de críticas infundadas sobre sua pessoa. Seu self. Gostava de expressões gringas. Mais non plus. Era fresco. Demais, très chic. E, agora, perdia o controle do que dizia e se irritava com aquilo que saía de sua boca. Era catarro demais pruma pessoa só. Não engolia, embora soubesse que mal não faz. Tinha nojo. Fresco. Cansado. De repente, parou de escr