14.4.05
Barba
Por motivos que ele não sabia explicar, sobraram, em determinado momento, apenas ele, os amigos que o acompanhavam -um cara, agora conhecido como amigo e uma mina, agora conhecida como japa, se conheciam de vista- e a irmã de uma terceira amiga dele, agora conhecida como loira. Essa terceira amiga, saberiam mais tarde, dormia, em seu veículo particular, o sono dos justos. Ou dos loucos, não conseguia recordar.
A certa altura da celebração bizarra, o amigo, no auge de sua embriaguez, virou para ele e disse que iria agarrar a japa e sugeriu que ele agarrasse a loira. Ele não o levou muito a sério mas estimulou seu xaveco. Quando o amigo e a japa saíram de rolê, haviam sobrado apenas a loira e ele. Eles se conheciam mais ou menos, mas não tinham tantos assuntos assim.
A loira estava bem alcoolizada, também. Sua fala era arrastada, sua língua titubeava nas sílabas e ela parecia precisar de muita concentração para falar. Era bastante bonita, e parecia fácil. Não que ele estivesse interessado, fora apenas uma observação. Claro que ele, por sua vez, estava tão sóbrio quanto todos os demais. Embora não admitisse jamais.
Até que estavam se saindo bem no bate-papo, mas sabiam que jamais se recordariam do diálogo. Em algum momento do falatório, a loira sentiu necessidade de aproximar-se mais dele para falar. Ela sempre afirmaria que era por causa do volume da péssima música, mas, naquela hora, ele achou que ela realmente estava dando em cima. Sem muito tempo pra pensar e sem grandes dúvidas, ele a agarrou pela cintura e a encarou.
Como ela sorriu, beijou-lhe. Ficaram assim um tempo e depois mais um pouco e depois mais um outro pouco e, passearam, saíram da barulheira, deram outros malhos e retomaram a conversa.
-Nunca havia beijado um cara tão barbudo...
-Jura?
-Quer dizer, já beijei outros caras de barba, mas não tanto quanto você.
-É, também nunca beijei outros caras, nem com barba nem sem, mas imagino que seja igual a chupar uma buceta.