16.3.05
Relacionamento perfeito
Até que a gaota dava um caldo, mas era meio tapadinha. Não que fosse burra, apenas sonsa. Não dizia muitas coisas bem sacadas. Obviedades, platitudes e um monte de bobajadas que não a levariam a lugar algum. Por outro lado, deus havia sido bem generoso com ela nos atributos físicos e estéticos. Além da saúde perfeita, um corpão.
Eu a conheci numa festa de um amigo comum, com quem acabei perdendo contato, assim que se foi -pra sempre- pra Europa. De qualquer maneira, esse amigo me apresentou à garota nessa festa. A festa estava bem ruim, pra dizer a verdade, mas havia seu charme: bastante bebida, algumas drogas ilícitas e, com bom papo, até uma putariazinha. Obviamente passei toda a noite tentando convencê-la a liberar suas dádivas a mim. Tudo em vão, porém.
Esse foi nosso primeiro encontro. Não trocamos telefones, nem nada. Sinceramente, achei que nunca mais a iria rever. Parecia um tanto surreal encontrá-la em outro ambiente que não aquele.
O tempo me fez errado.
Um belo dia, quando saía de um badalado restaurante -convite feito, e pago, pelo meu chefe-, eu a vi num relance. De imediato imaginei que minha mente me pregava alguma peça, fazendo-me ver aquilo que realmente queria. Olhei uma última vez para aquele mesmo lado e, surpresa!, lá estava ela.
Despedi-me ligeiramente do patrão e cheguei mais perto de sua mesa. Queria que ela me visse antes de começar qualquer diálogo. Após breves instantes nossos olhos se cruzaram. Ela sorriu um sorriso lindo, brilhante. Seus olhos sorriram junto.
Era a brecha de que precisava para me sentar a sua mesa.
"Como uma garota tão bonita como você consegue vir a um lugar tão chique sozinha?", perguntei mais em tom de brincadeira que de xaveco.
"Não estou sozinha, meu noivo está no banheiro."
Reparem que ela sempre falava as palavras e as sílabas corretamente, com uma pronúncia impecável. Reparem também que ela tinha um noivo. Depois eu descobriria que esse noivo já existia quando nos conhecemos; talvez fosse o motivo pelo qual ela me vetara tão solenemente.
"Ora, então temos tempo de sair daqui correndo e deixar a conta por conta dele e a felicidade por nossa conta.", arrisquei de brincadeira, já esperando pelo tapa na cara.
Ela, num salto, se pôs de pé e me agarrou pela mão, indo em direção à porta. Saímos do lugar e fomos, sem nenhuma parada à sua casa.
Trepamos loucamente por toda a noite. Na manhã seguinte, quando acordei e tentamos desenvolver um diálogo mais produtivo (sempre me sinto mais inspirado, criativo e engraçado no pós-coito) foi que percebi suas limitações. Bem, pensei, ela deve estar com sono, até a hora do almoço passa.
Não passou. E não passaria nunca. Não conseguia ficar perto dela tempo suficiente para falar mais que três palavras.
E então veio a sacada de mestre: sempre que ela começava a falar, eu lançava um elogio rasgado. Ela sorria (lindamente, claro) e me beijava. Depois, era só arrastá-la pra cama e ser feliz.
Durou alguns anos. Aí, cansei.
Perdeu a graça.
Eu a conheci numa festa de um amigo comum, com quem acabei perdendo contato, assim que se foi -pra sempre- pra Europa. De qualquer maneira, esse amigo me apresentou à garota nessa festa. A festa estava bem ruim, pra dizer a verdade, mas havia seu charme: bastante bebida, algumas drogas ilícitas e, com bom papo, até uma putariazinha. Obviamente passei toda a noite tentando convencê-la a liberar suas dádivas a mim. Tudo em vão, porém.
Esse foi nosso primeiro encontro. Não trocamos telefones, nem nada. Sinceramente, achei que nunca mais a iria rever. Parecia um tanto surreal encontrá-la em outro ambiente que não aquele.
O tempo me fez errado.
Um belo dia, quando saía de um badalado restaurante -convite feito, e pago, pelo meu chefe-, eu a vi num relance. De imediato imaginei que minha mente me pregava alguma peça, fazendo-me ver aquilo que realmente queria. Olhei uma última vez para aquele mesmo lado e, surpresa!, lá estava ela.
Despedi-me ligeiramente do patrão e cheguei mais perto de sua mesa. Queria que ela me visse antes de começar qualquer diálogo. Após breves instantes nossos olhos se cruzaram. Ela sorriu um sorriso lindo, brilhante. Seus olhos sorriram junto.
Era a brecha de que precisava para me sentar a sua mesa.
"Como uma garota tão bonita como você consegue vir a um lugar tão chique sozinha?", perguntei mais em tom de brincadeira que de xaveco.
"Não estou sozinha, meu noivo está no banheiro."
Reparem que ela sempre falava as palavras e as sílabas corretamente, com uma pronúncia impecável. Reparem também que ela tinha um noivo. Depois eu descobriria que esse noivo já existia quando nos conhecemos; talvez fosse o motivo pelo qual ela me vetara tão solenemente.
"Ora, então temos tempo de sair daqui correndo e deixar a conta por conta dele e a felicidade por nossa conta.", arrisquei de brincadeira, já esperando pelo tapa na cara.
Ela, num salto, se pôs de pé e me agarrou pela mão, indo em direção à porta. Saímos do lugar e fomos, sem nenhuma parada à sua casa.
Trepamos loucamente por toda a noite. Na manhã seguinte, quando acordei e tentamos desenvolver um diálogo mais produtivo (sempre me sinto mais inspirado, criativo e engraçado no pós-coito) foi que percebi suas limitações. Bem, pensei, ela deve estar com sono, até a hora do almoço passa.
Não passou. E não passaria nunca. Não conseguia ficar perto dela tempo suficiente para falar mais que três palavras.
E então veio a sacada de mestre: sempre que ela começava a falar, eu lançava um elogio rasgado. Ela sorria (lindamente, claro) e me beijava. Depois, era só arrastá-la pra cama e ser feliz.
Durou alguns anos. Aí, cansei.
Perdeu a graça.