21.10.04
LXVI
Quando a policia chegou, o corpo já estava num avançado estado de putrefação. Na verdade, foi o cheiro que chamou a atenção dos vizinhos. Eles jamais poderiam imaginar que uma casa tão boa num bairro tão nobre pudesse ser o cativeiro do seqüestro mais famoso do ano.
Quando o corpo foi encontrado, já era também o seqüestro mais duradouro de que as pessoas podiam se lembrar: seis meses. Tinha tudo sido planejado cinematograficamente. Os seqüestradores tinham se disfarçado de policiais e, numa falsa blitz, pararam o carro da vítima – um dos mais famosos banqueiros do país – alegando que ele era suspeito de carregar drogas no porta-malas. Durante a revista, o acertaram pelas costas.
Demoraram duas semanas para fazer o primeiro contato. Mas não chegaram a falar em resgate. Deram uma prova de vida. A vítima alegou, de acordo com a declaração da família, não estar ferida nem sofrendo maus tratos, além dos habituais desconfortos esperados de um seqüestro: ficar todo o tempo no escuro, não ver o rosto das pessoas, não ter o direito de ir ao banheiro e comer mal, muito mal – ainda mais para ele, tão acostumado a restaurantes finos e de excelente qualidade.
Os contatos se davam sempre às quintas-feiras imediatamente após a novela das oito. Não duravam mais que cinqüenta e oito segundos. E sempre eram feitas do celular da vítima. Mas sempre de lugares diferentes e, como depois se descobriu, longe do cativeiro. Mas, de qualquer modo, não eram longas o suficiente para que pudessem ser localizadas enquanto a família ainda estava na linha. Quando a polícia chegava ao local da ligação, já era tarde demais. Além do mais, não havia suspeitos, não teriam como identificar os seqüestradores.
Uma vez a cada duas semanas a família recebia uma fita com a voz da vítima. Cada vez era postada de um posto de correio diferente. Para garantir à família que ela não havia sido previamente gravada, a vítima dizia a data e lia a manchete do principal jornal. Vinham sempre iguais: fora da caixinha e sem nada escrita. Era, também, sempre a mesma marca e modelo. Após pesquisas, a polícia descobriu que era o modelo mais barato de fitas vendidas por camelôs. Foram provavelmente compradas de uma vez. Receberam dez dessas fitas.
A preocupação da família e as buscas da polícia aumentaram no sexto mês, após o recebimento da décima fita – a última vez que tiveram notícias tanto da vítima como dos seqüestradores. O curioso é que, em nenhuma das conversas telefônicas que tiveram, o preço do resgate foi mencionado. Quando o corpo foi achado, às três da tarde de um sábado ensolarado, foi imediatamente para o Instituto Médico Legal e lá permaneceu por algumas horas até o término da autópsia. Todo o país estava aflito para saber a causa mortis do banqueiro. Mas os laudos conclusivos e, como os próprios legistas afirmaram, infalíveis atestavam que aquele corpo não era do banqueiro. Há três meses ele foi fotografado ao lado de uma famosa modelo numa praia do litoral espanhol. Parecia feliz e satisfeito.
Quando o corpo foi encontrado, já era também o seqüestro mais duradouro de que as pessoas podiam se lembrar: seis meses. Tinha tudo sido planejado cinematograficamente. Os seqüestradores tinham se disfarçado de policiais e, numa falsa blitz, pararam o carro da vítima – um dos mais famosos banqueiros do país – alegando que ele era suspeito de carregar drogas no porta-malas. Durante a revista, o acertaram pelas costas.
Demoraram duas semanas para fazer o primeiro contato. Mas não chegaram a falar em resgate. Deram uma prova de vida. A vítima alegou, de acordo com a declaração da família, não estar ferida nem sofrendo maus tratos, além dos habituais desconfortos esperados de um seqüestro: ficar todo o tempo no escuro, não ver o rosto das pessoas, não ter o direito de ir ao banheiro e comer mal, muito mal – ainda mais para ele, tão acostumado a restaurantes finos e de excelente qualidade.
Os contatos se davam sempre às quintas-feiras imediatamente após a novela das oito. Não duravam mais que cinqüenta e oito segundos. E sempre eram feitas do celular da vítima. Mas sempre de lugares diferentes e, como depois se descobriu, longe do cativeiro. Mas, de qualquer modo, não eram longas o suficiente para que pudessem ser localizadas enquanto a família ainda estava na linha. Quando a polícia chegava ao local da ligação, já era tarde demais. Além do mais, não havia suspeitos, não teriam como identificar os seqüestradores.
Uma vez a cada duas semanas a família recebia uma fita com a voz da vítima. Cada vez era postada de um posto de correio diferente. Para garantir à família que ela não havia sido previamente gravada, a vítima dizia a data e lia a manchete do principal jornal. Vinham sempre iguais: fora da caixinha e sem nada escrita. Era, também, sempre a mesma marca e modelo. Após pesquisas, a polícia descobriu que era o modelo mais barato de fitas vendidas por camelôs. Foram provavelmente compradas de uma vez. Receberam dez dessas fitas.
A preocupação da família e as buscas da polícia aumentaram no sexto mês, após o recebimento da décima fita – a última vez que tiveram notícias tanto da vítima como dos seqüestradores. O curioso é que, em nenhuma das conversas telefônicas que tiveram, o preço do resgate foi mencionado. Quando o corpo foi achado, às três da tarde de um sábado ensolarado, foi imediatamente para o Instituto Médico Legal e lá permaneceu por algumas horas até o término da autópsia. Todo o país estava aflito para saber a causa mortis do banqueiro. Mas os laudos conclusivos e, como os próprios legistas afirmaram, infalíveis atestavam que aquele corpo não era do banqueiro. Há três meses ele foi fotografado ao lado de uma famosa modelo numa praia do litoral espanhol. Parecia feliz e satisfeito.