2.7.04
Ver ou não ver?
A visão é o sentido privilegiado do homem. Ela é a principal responsável pela construção do real. E também a principal responsável pela desconstrução e destruição do real. E de outros níveis de realidade. As imagens criam verdades e mitos. Determinam o consumo. Elegem e derrubam governantes. Governam.
Os fatos também sofrem sua influência. Por que se supõe que a televisão tem mais credibilidade que um jornal escrito ou de rádio? É, por acaso, a imagem que lhe garante -ou antes, outorga- isenção? Culturalmente, a visão e as imagens ocupam um lugar de destaque na hierarquia sensorial. Aquilo que vemos parece sempre importar mais do que aquilo que ouvimos. A verdade visual das coisas.
Por mais rica em detalhes e descrições que uma história ou uma cena possa ser, ela nunca será tão simbólica quanto sua imagem. Ainda que falsa, uma representação pictórica. Apenas uma representação. Mas como e por que uma representação visual nos determina o real? Por que as imagens sempre surtem mais efeito? Por que elas nos seduzem tanto?
A evolução do homem, a criação da máquina. A criação-modernização-industrialização-informatização-globalização das cidades alterou e levou às últimas conseqüências a percepção do real. Ela acelerou o mundo. Ela acelerou as relações. O mundo acelerado se tornou um mundo iluminado. Cada vez mais claro, o mundo da luz não poderia ser mais bem percebido do que pela visão. A produção em escala dos bens de consumo levou à produção em escala dos produtos culturais que levou à produção em escala de imagens que levou o real à produção em escala. A massificação, a padronização do real. A uniformização do real. É tudo produzido em escala industrial. O que se vê -e, conseqüentemente, o que se é- continua se repetindo infinitamente, ininterruptamente, inconseqüentemente.
A História se repete como farsa? Sim, e em versão do diretor, com cenas extras, making of, som estéreo 5.1 e ainda um vídeo-clipe da música tema -vencedora do Grammy e do Oscar-, interpretada por Caetano Veloso e Marília Gabriela. A História se repete como farsa visual. As imagens se reificam. Reificam o homem, a realidade. O senso de verdade. A percepção.
Todas elas se repetem, tudo já foi visto. Você viu aquilo? Pois é, já foi visto muitas vezes. Aquilo que você viu é um clichê. Mas não se preocupe, tudo que vejo também é clichê. Se tudo que vemos é repetição, todo nosso imaginário, ou boa parte dele, também deve ser. A nossa representação de realidade também é. A nossa realidade... também? Será que não existe uma dimensão real além da imagem? Será que tudo se encerra na imagem?
As imagens são aceitas. Elas têm crédito, são gente-fina; pode confiar. Elas falam a verdade e não te deixam na mão. É mesmo. As imagens são manipuladas e manipuláveis. A construção e a aceitação dessas imagens reitera o seu poder. O ataque às torres gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001 causou tamanho impacto justamente por ter sido transmitido ao vivo por redes de tevê. Por que imagens da guerra -clínica- feita contra o Iraque não são feitas? E as que são, apenas nos mostram pontinhos verdes -que nos dizem ser mísseis- ao melhor estilo Atari. Ver as torres caindo reforçou a tragédia do fato.
Quando fotos como as da prisão de Abu Ghraib vêm à tona não se questiona o poder das imagens sobre a (de)formação do real e da verdade. Elas apenas a reiteram. Apenas quando essas fotos surgem as autoridades estadunidenses se preocupam em investigar o abuso contra a humanidade que é praticado em território pelo qual é responsável. A menção a essas atrocidades, como se diz mesmo?, se perdem no vento. São apenas palavras, são esquecidas.
Se vemos o que vemos, acreditamos. E normalmente paramos por aí. É raro pararmos para questionar a verdade daquilo que nos impregna as retinas. É difícil confrontar a verdade da imagem com a verdade, por exemplo, do som. A imagem leva, sempre, uma vantagem atroz sobre as outras dimensões dos fatos. Ver é saber. Poderia ser o mote de uma igreja messiânica pós-moderna. Uma igreja on-line.
Nas cidades contemporâneas, cada vez mais invisíveis -por irônico que pareça-, a imagem se alia também à publicidade. E, também lá, se repete à banalização, se recicla. Sem se recriar. E com isso molda o nosso desejo. A nossa libido. A imagem do comércio que nos faz semelhantes. Nos identificamos por consumirmos o mesmo. Somos, afinal, o público alvo. Alvo das imagens e de seus significados e suas enésimas intenções.
Venha para onde está o sabor! Claro! Afinal, ao ver aqueles caubóis naquele lugar, você não consegue realmente sentir o sabor do marlboro? Mas ninguém viu quando o homem de marlboro morreu. Ah, não sabia que ele morreu? É porque foi apenas dito. Escrito ou falado. Não houve imagens.
É possível que se veja algo além da imagem? Será que é possível escapar da farsa -burlesca, até- que as imagens nos impõem? Não sei, mas existe, sim, uma dimensão outra do real. Talvez até uma dimensão mais real -ou realista- deste tal de real.
Os fatos também sofrem sua influência. Por que se supõe que a televisão tem mais credibilidade que um jornal escrito ou de rádio? É, por acaso, a imagem que lhe garante -ou antes, outorga- isenção? Culturalmente, a visão e as imagens ocupam um lugar de destaque na hierarquia sensorial. Aquilo que vemos parece sempre importar mais do que aquilo que ouvimos. A verdade visual das coisas.
Por mais rica em detalhes e descrições que uma história ou uma cena possa ser, ela nunca será tão simbólica quanto sua imagem. Ainda que falsa, uma representação pictórica. Apenas uma representação. Mas como e por que uma representação visual nos determina o real? Por que as imagens sempre surtem mais efeito? Por que elas nos seduzem tanto?
A evolução do homem, a criação da máquina. A criação-modernização-industrialização-informatização-globalização das cidades alterou e levou às últimas conseqüências a percepção do real. Ela acelerou o mundo. Ela acelerou as relações. O mundo acelerado se tornou um mundo iluminado. Cada vez mais claro, o mundo da luz não poderia ser mais bem percebido do que pela visão. A produção em escala dos bens de consumo levou à produção em escala dos produtos culturais que levou à produção em escala de imagens que levou o real à produção em escala. A massificação, a padronização do real. A uniformização do real. É tudo produzido em escala industrial. O que se vê -e, conseqüentemente, o que se é- continua se repetindo infinitamente, ininterruptamente, inconseqüentemente.
A História se repete como farsa? Sim, e em versão do diretor, com cenas extras, making of, som estéreo 5.1 e ainda um vídeo-clipe da música tema -vencedora do Grammy e do Oscar-, interpretada por Caetano Veloso e Marília Gabriela. A História se repete como farsa visual. As imagens se reificam. Reificam o homem, a realidade. O senso de verdade. A percepção.
Todas elas se repetem, tudo já foi visto. Você viu aquilo? Pois é, já foi visto muitas vezes. Aquilo que você viu é um clichê. Mas não se preocupe, tudo que vejo também é clichê. Se tudo que vemos é repetição, todo nosso imaginário, ou boa parte dele, também deve ser. A nossa representação de realidade também é. A nossa realidade... também? Será que não existe uma dimensão real além da imagem? Será que tudo se encerra na imagem?
As imagens são aceitas. Elas têm crédito, são gente-fina; pode confiar. Elas falam a verdade e não te deixam na mão. É mesmo. As imagens são manipuladas e manipuláveis. A construção e a aceitação dessas imagens reitera o seu poder. O ataque às torres gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001 causou tamanho impacto justamente por ter sido transmitido ao vivo por redes de tevê. Por que imagens da guerra -clínica- feita contra o Iraque não são feitas? E as que são, apenas nos mostram pontinhos verdes -que nos dizem ser mísseis- ao melhor estilo Atari. Ver as torres caindo reforçou a tragédia do fato.
Quando fotos como as da prisão de Abu Ghraib vêm à tona não se questiona o poder das imagens sobre a (de)formação do real e da verdade. Elas apenas a reiteram. Apenas quando essas fotos surgem as autoridades estadunidenses se preocupam em investigar o abuso contra a humanidade que é praticado em território pelo qual é responsável. A menção a essas atrocidades, como se diz mesmo?, se perdem no vento. São apenas palavras, são esquecidas.
Se vemos o que vemos, acreditamos. E normalmente paramos por aí. É raro pararmos para questionar a verdade daquilo que nos impregna as retinas. É difícil confrontar a verdade da imagem com a verdade, por exemplo, do som. A imagem leva, sempre, uma vantagem atroz sobre as outras dimensões dos fatos. Ver é saber. Poderia ser o mote de uma igreja messiânica pós-moderna. Uma igreja on-line.
Nas cidades contemporâneas, cada vez mais invisíveis -por irônico que pareça-, a imagem se alia também à publicidade. E, também lá, se repete à banalização, se recicla. Sem se recriar. E com isso molda o nosso desejo. A nossa libido. A imagem do comércio que nos faz semelhantes. Nos identificamos por consumirmos o mesmo. Somos, afinal, o público alvo. Alvo das imagens e de seus significados e suas enésimas intenções.
Venha para onde está o sabor! Claro! Afinal, ao ver aqueles caubóis naquele lugar, você não consegue realmente sentir o sabor do marlboro? Mas ninguém viu quando o homem de marlboro morreu. Ah, não sabia que ele morreu? É porque foi apenas dito. Escrito ou falado. Não houve imagens.
É possível que se veja algo além da imagem? Será que é possível escapar da farsa -burlesca, até- que as imagens nos impõem? Não sei, mas existe, sim, uma dimensão outra do real. Talvez até uma dimensão mais real -ou realista- deste tal de real.
ander_laine é cego e quase bateu a cabeça na porta