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1.7.04

Ascensão da casa de Poe 


Cadê minha sopa?Cheguei a uma casa sombria, de formas pouco comuns, ainda que deca-dentes. Era uma casa antiga, que já havia sido imponente. Mas hoje não passava de um velho casarão, talvez mal-assombrado. Talvez. Talvez não.

Mas, como já havia horas que andava sem cessar, a noite começava a cair e uma forte chuva prenunciava, resolvi pedir abrigo naquele lugar mesmo, o único que encontrara em longos quilômetros. O portão da en-trada estava caindo aos pedaços, completamente enferrujado, torto, cor-roído. Decrépito. Assim como toda a casa e seu terreno.

No caminho que levava à casa, ervas daninhas tomavam o lugar que outrora fora de gramíneas verdes. As árvores eram secas, retorcidas e completamente desprovidas de folhas. Muito embora fosse primavera e o clima ameno e úmido favorecesse o desabrochar da vida ao longo da es-trada, nesse local, precisamente, a morte parecia imperar.

Corvos negros pousados sobre os galhos das árvores observavam-me e, ao que parece, preparavam-se para atacar a qualquer momento. Hostis, sutilmente hostis. Finalmente atingi a escada que dava acesso à porta principal que, mesmo sendo feita de madeira forte -carvalho?-, estava empenada e visivelmente fora de prumo.

Tentei abri-la. Pelo aspecto da casa, imaginei que estivesse abandonada; mas ao tentar abrir a porta, encontrei-a trancada. Bati algumas vezes, muito embora não aguardasse nenhum tipo de resposta. Quando me preparava para derrubá-la com um chute -ação que não me parecia di-fícil, dado o estado em que se encontrava-, ouvi um leve ruído dentro da casa.

Um homem de seus quarenta anos, bigode espesso e olhos fundos e can-sados abriu a porta e ficou a fitar-me. Intimamente. Tão intimamente que, por breves instantes, esquecera-me do que fazia lá. Quando recobrei a memória, perdida apenas por frações de segundos, que mais me pare-ceram eras, ele ainda me olhava com a mesma serenidade. Sim, era um homem sereno. Perguntou-me calmamente o que um viajante como eu desejava num local como aquele.

Confesso que estava perplexo! Como ele sabia que eu era um viajante? Será que possuía o incrível dom da premonição? Mas ele declarou-me que apenas notara meu excesso de bolsas e bagagens. Excesso era um exagero, mas como aquele homem parecia nunca sair da casa, o que pa-ra ele era, portanto, um exagero de bagagens, nada mais era que minhas três mudas de roupa.

Declarei precisar de abrigo. Por uma noite apenas, é claro. E, também, se não for atrapalhar sua rotina. Não gostaria de ser um fardo para nin-guém. Apenas estava cansado e precisava de um lugar coberto para pas-sar a noite e nada mais. Provisões as tinha em quantidade suficiente. Mantas e cobertas para aplacar o leve frio que faria à noite, também. Precisava, mesmo, apenas de um lugar coberto. E seco.

Ele pediu que me acalmasse. Claro que me daria abrigo: morava sozinho naquele imenso casarão e adoraria ter a companhia de um viajante. Adorava ouvir histórias dos que vagam pelo mundo. Além do mais, con-tinuou, eu havia chegado na hora certa, ele acabara de preparar uma sopa para seu jantar. Convidou-me a entrar e jantar com ele, convite que aceitei prontamente, afinal, fazia já dois dias que não comia e ape-nas inventara a história das provisões para conseguir, ao menos, abrigo.

O jantar foi, realmente, pitoresco. Embora a casa estivesse completamen-te arruinada pelo tempo e por maus-tratos, seu interior era ricamente decorado, claro e asseado. A sopa que meu anfitrião me servira, de car-ne, era realmente deliciosa e surpreenderam-me suas habilidades gas-tronômicas. Durante toda a refeição, meu anfitrião não proferiu pala-vra. Apenas sorveu a sopa calmamente, degustando-lhe todos os aromas e sabores. Eu, por outro lado, embora achasse que estava realmente boa -e tivesse paladar para isso- apenas engolia o caldo que revigorava mi-nhas forças.

“Revigorar minhas forças” é pouco, sentia-me, de fato, sobre-humano. Sentia, embora sem poder ver, que meus músculos recuperavam seu tônus de juventude, que minhas juntas ganhavam flexibilidade nunca antes imaginada e meu raciocínio... bem, meu raciocínio ia às alturas. Sentia-me um gênio.

Ao fim da refeição, Edgar -esse era o nome de meu tão hospitaleiro anfi-trião- disse-me, com um leve sorriso na boca que realmente apreciava muito esse caldo. Perguntei-lhe de que era feito e a resposta apenas in-trigou-me mais: “Quando for a hora, você saberá. Ou melhor, você perce-berá!”

Ele me disse também que gostava muito de dormir cedo -já eram oito horas- mas que eu não era obrigado, de maneira alguma, a ceder a seus caprichos pessoais. Apresentou-me o quarto em que passaria a noite -ricamente decorado, embora um pouco soturno, com imagens de caniba-lismo, decapitações e orgias- e levou-me à biblioteca, onde me apresentou um trabalho que estava desenvolvendo. Um longo poema que tinha por nome “O corvo”. Não resisti à tentação de perguntar se era inspiração vinda dos corvos do jardim (sim, agora até encarava o terreno infértil como jardim). Disse-me vagamente que não sabia, não saí a muito da casa e não dava pela presença de corvos.

Era um homem comum. Li todo seu poema e, apenas alguns minutos depois que Edgar se retirou, recolhi-me também a meu quarto.

Eu acabara de pegar no sono quando ruídos terríveis vindos do andar de cima me despertaram. Era no andar do quarto de Edgar. Coloquei rapidamente a roupa que deixara sobre o toucador e corri para acudi-lo. A verdade é que nem mesmo considerei a hipótese de meu anfitrião apenas ter um pesadelo.

Cheguei a seu quarto e bati na porta. Mas os barulhos tinham cessado. Perguntei se tudo estava bem. Mas o silêncio permanecia. Tentei abrir, temia pela vida de meu amigo. A porta estava trancada e a maçaneta, emperrada.

Forcei-a, em vão. Mas não desisti da empreitada. Tomei uma distância um pouco maior e corri em direção à porta, com o intuito de derrubá-la. Mas, para minha estranha surpresa, não sei bem como, atravessei-a. Acredito que Edgar a tenha aberto no preciso momento em que me a-proximei. Mas, ao entra em seu quarto e vê-lo sorrindo maleficamente para mim, sentado em uma poltrona, com as pernas cruzadas, concluí que ele não a poderia ter aberto. Olhei para trás e confirmei minhas suspeitas: atravessara, realmente, a porta.

Em busca de explicações, caminhei em direção a meu amigo. Qual não foi meu espanto ao passar em frente a um espelho e não ver meu refle-xo! Ante minha perplexidade, meu anfitrião apenas gargalhou. Como olhasse para ele completamente alheio a tudo que acontecia, ele apenas disse-me para voltar a meu quarto.

Quando cheguei pude ver meu corpo. Morto e com seus braços e pernas arrancados. Aliás, parcialmente arrancados. Parcialmente devorados. Logo depois pressenti a aproximação de Edgar. Ele aproximou-se de meu cadáver e sorriu. Alisou seu bigode e disse-me que adorava caldo de via-jantes. Depois, transformou-me num corvo e me pôs no jardim, para que vigiasse sua propriedade.

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