18.5.04
Olhos verdes
Então eu ABRO os olhos. Nada. Apenas a mesma visão de sempre. Ou seja, NADA. De um lado, a parede. Do outro, os livros, os discos, as roupas... e está tudo em seu LUGAR. De novo, apenas o DIA. Se tanto...
A preguiça é a MESMA. As reclamações também. Na verdade, sou, AINDA, a mesma pessoa. Eu acho. Mas, na verdade mesmo, não importa. Tudo, quer dizer, nada, IMPORTA. Talvez o futebol importe, mas não para mim, que ABDIQUEI de tudo aquilo que o prazer MUNDANO pode oferecer. Já tive muitos prazeres, sim, muita DIVERSÃO, muita festa e agito.
Mas há um momento na vida de uma pessoa em que certas coisas simplesmente perdem o SENTIDO. E é nesse momento que a ILUMINAÇÃO vem à tona. Quer dizer, não sei. Talvez. Quem sabe...
Quando, há tempos, eu vivia tudo que se PODE viver, eu era um rapaz INTENSO. Mas isso era pouco, eu sempre queria MAIS. E tudo satisfazia. Mas aquele ÉLAN se foi. Perdeu-se no tempo e no espaço. ESCAFEDEU-SE.
Hoje tudo é CINZA. As cores foram se apagando, como um velho casaco que se DESBOTA. Eu desbotei, senhoras e senhores. Tudo aquilo que antes era, para mim, o MÁXIMO, de um momento para o seguinte, deixou de ser. Como eu sempre achei que deixaria, embora nunca com coragem o suficiente para assumir. Nem mesmo INTIMAMENTE.
Mas apenas me REPITO e DIVAGO. Pareço um velho, reclamão e insensato. Mas apóio-me em meu atual estado de ESPÍRITO para justificar tão desmesurada CONDUTA. Mas ela TAMBÉM não importa.
Mas, reiterando minhas atitudes, me explico. Tudo começou há pouco, EVIDENTE, de outra forma não estariam tão frescos os fatos em minha -já- SÓRDIDA mente. Estávamos em uma reunião do serviço e tudo que eu via, naquele momento, eram os olhos -os OLHOS, senhoras e senhores- daquela que viria a ser o motivo de minha RUÍNA.
Eram verdes. E grandes. E também me olhavam. Mal sabia eu que de forma antagônica demais à minha forma de olhá-los. E, INCAUTO, mergulhei com todas as forças naquele olhar. Sim, de cabeça. Como uma criança que não sabe a real TEMPERATURA do fogo.
Ignorando que até mesmo o gelo pode queimar, lancei-me em tão IRRESPONSÁVEL jornada. Foram poucos dias de EUFORIA. Fato que euforia não é das melhores sensações. Mas experimente dizer isso a qualquer pessoa eufórica para ver se não virá um INSULTO federal em resposta.
De qualquer forma, embarquei na jogada. LEDO engano; mas isso só será descoberto mais para frente. Acompanhe. Na reunião do serviço, apenas os tais olhos me mantinham ATENTO. E eram eles que me moviam, GUIAVAM.
A reunião foi BUROCRÁTICA como haveria de ser. Apenas gráficos, tabelas, dados e números que muito provavelmente não REFLETIAM os reais ganho -perdas, no caso- de nossa tão ESTIMADA empresa. Mas o fim da reunião me reservava surpresas. Ela se aproximou e me convidou para tomar uma CERVEJA. Convite aceito de imediato. Era perfeito demais para ser verdade. Tudo que ela dizia me fazia pensar a respeito. E eu, em seguida, CONCORDAVA. Tudo que eu dizia, fazia com que ela PENSASSE a respeito. Em seguida, concordava.
E assim nós fomos. Saímos da cervejaria -atenção para o requinte da moça, não era meramente um BOTECO, mas uma cervejaria- e fomos para a casa dela, ver sua coleção de TAMPINHAS de garrafa. Chegamos lá e... bem, a coleção era apenas uma desculpa. Mas boa o suficiente para que eu me APAIXONASSE.
E foi, sim, uma paixão FULMINANTE, daquelas de se esquecer do mundo e se fechar com tudo nela mesma. Dessas bem BURRAS. Mas boa. E fui vivendo essa paixão, dia após dia, e fui me AFUNDANDO cada vez mais, e mais e mais.
E, depois de POUCO tempo, era só isso que havia restado. E, naquele momento, era só o que importava. E, logo mais, nada mais importará. NADA.
Foi nessa época que ela começou a ficar ESTRANHA. E só me dizia coisas incompreensíveis. Só me dizia que eu não era bom o SUFICIENTE e que tudo que eu fazia só a IRRITAVA.
Depois, veio o silêncio. Dela, claro, porque eu só fazia FALAR. E ela só me olhava, com desaprovação. E tudo que eu fazia, afastava um pouco mais o OLHAR dela... E então, de repente, ela se afastou INTEIRA.
Foi quando abri os OLHOS. Os meus. E vi em que mundo me havia metido. Foi quando eu VI, finalmente, o que eu havia feito comigo mesmo: tomado de uma paixão AVASSALADORA, abandonei toda minha percepção das coisas. De fato. E, ao abandoná-las, não sabia que podia colocar muito mais em RISCO. E pus.
Na IGNORÂNCIA da paixão, acalentado por um sentimento que não era RECÍPROCO e ridiculamente abandonado, ajuntei-me aos vermes, aos farrapos humanos e lá fiquei, gostando da sensação do SUBTERRÂNEO.
Tudo agora era SUJO, PERVERSO, SACANA. Tudo era imoral, inútil e pérfido. Tudo agora era a mais perfeita HONESTIDADE. A minha mais PERFEITA honestidade.
Ela se foi, sim, mas o que me legou, senhoras e senhores, é muito mais do que jamais poderia desejar. É muito maior do que qualquer fato que pudesse, na CLARA ignorância de minha vida anterior.
Fato que quanto mais sujo, mais gostava. Quanto mais improvável, melhor. Quanto PIOR, melhor. Quando ela se foi e tudo se perdeu, foi que pude perceber o quanto eu havia ganhado. Perdê-la foi a melhor coisa que me ocorreu.
Em minha DÉBIL loucura, tudo fazia sentido, havia respostas para tudo. Em minha frágil INSANIDADE, tudo era CLARO.
Finalmente tudo fazia SENTIDO. Era isso que queria, ver, através de olhos INCONSEQÜENTES, saber o que se passava em todos os lugares... saber o que aconteceria em seguida. Com tal ou qual pessoa. Era o que conseguia fazer.
E foi quando me acharam, jogado numa rua, andava profetizando, vírgula, ESCLARECENDO, o que me atingia as retinas.
Talvez fosse demais para eles. E era. Quando me encontraram, me agarraram, me puseram em uma camisa-de-força. Era o mínimo que podiam fazer, eu estava por demais ACIMA de todos eles.
Me obrigaram a tomar COMPRIMIDOS coloridos, líquidos amargos e coisas afins. Me obrigaram a falar com pessoas, a contar o que VIA para, em seguida, OUVIR, daquelas mesmas pessoas que eu era louco. Que o que eu VIA, e eles OUVIAM, não poderia ser a mesma coisa; que eu certamente estava ALUCINADO. Completamente abstraído de qualquer LUZ da razão.
Então, eles me CURARAM. Me devolveram à NORMALIDADE. E foi quando tudo parou de importar.
A preguiça é a MESMA. As reclamações também. Na verdade, sou, AINDA, a mesma pessoa. Eu acho. Mas, na verdade mesmo, não importa. Tudo, quer dizer, nada, IMPORTA. Talvez o futebol importe, mas não para mim, que ABDIQUEI de tudo aquilo que o prazer MUNDANO pode oferecer. Já tive muitos prazeres, sim, muita DIVERSÃO, muita festa e agito.
Mas há um momento na vida de uma pessoa em que certas coisas simplesmente perdem o SENTIDO. E é nesse momento que a ILUMINAÇÃO vem à tona. Quer dizer, não sei. Talvez. Quem sabe...
Quando, há tempos, eu vivia tudo que se PODE viver, eu era um rapaz INTENSO. Mas isso era pouco, eu sempre queria MAIS. E tudo satisfazia. Mas aquele ÉLAN se foi. Perdeu-se no tempo e no espaço. ESCAFEDEU-SE.
Hoje tudo é CINZA. As cores foram se apagando, como um velho casaco que se DESBOTA. Eu desbotei, senhoras e senhores. Tudo aquilo que antes era, para mim, o MÁXIMO, de um momento para o seguinte, deixou de ser. Como eu sempre achei que deixaria, embora nunca com coragem o suficiente para assumir. Nem mesmo INTIMAMENTE.
Mas apenas me REPITO e DIVAGO. Pareço um velho, reclamão e insensato. Mas apóio-me em meu atual estado de ESPÍRITO para justificar tão desmesurada CONDUTA. Mas ela TAMBÉM não importa.
Mas, reiterando minhas atitudes, me explico. Tudo começou há pouco, EVIDENTE, de outra forma não estariam tão frescos os fatos em minha -já- SÓRDIDA mente. Estávamos em uma reunião do serviço e tudo que eu via, naquele momento, eram os olhos -os OLHOS, senhoras e senhores- daquela que viria a ser o motivo de minha RUÍNA.
Eram verdes. E grandes. E também me olhavam. Mal sabia eu que de forma antagônica demais à minha forma de olhá-los. E, INCAUTO, mergulhei com todas as forças naquele olhar. Sim, de cabeça. Como uma criança que não sabe a real TEMPERATURA do fogo.
Ignorando que até mesmo o gelo pode queimar, lancei-me em tão IRRESPONSÁVEL jornada. Foram poucos dias de EUFORIA. Fato que euforia não é das melhores sensações. Mas experimente dizer isso a qualquer pessoa eufórica para ver se não virá um INSULTO federal em resposta.
De qualquer forma, embarquei na jogada. LEDO engano; mas isso só será descoberto mais para frente. Acompanhe. Na reunião do serviço, apenas os tais olhos me mantinham ATENTO. E eram eles que me moviam, GUIAVAM.
A reunião foi BUROCRÁTICA como haveria de ser. Apenas gráficos, tabelas, dados e números que muito provavelmente não REFLETIAM os reais ganho -perdas, no caso- de nossa tão ESTIMADA empresa. Mas o fim da reunião me reservava surpresas. Ela se aproximou e me convidou para tomar uma CERVEJA. Convite aceito de imediato. Era perfeito demais para ser verdade. Tudo que ela dizia me fazia pensar a respeito. E eu, em seguida, CONCORDAVA. Tudo que eu dizia, fazia com que ela PENSASSE a respeito. Em seguida, concordava.
E assim nós fomos. Saímos da cervejaria -atenção para o requinte da moça, não era meramente um BOTECO, mas uma cervejaria- e fomos para a casa dela, ver sua coleção de TAMPINHAS de garrafa. Chegamos lá e... bem, a coleção era apenas uma desculpa. Mas boa o suficiente para que eu me APAIXONASSE.
E foi, sim, uma paixão FULMINANTE, daquelas de se esquecer do mundo e se fechar com tudo nela mesma. Dessas bem BURRAS. Mas boa. E fui vivendo essa paixão, dia após dia, e fui me AFUNDANDO cada vez mais, e mais e mais.
E, depois de POUCO tempo, era só isso que havia restado. E, naquele momento, era só o que importava. E, logo mais, nada mais importará. NADA.
Foi nessa época que ela começou a ficar ESTRANHA. E só me dizia coisas incompreensíveis. Só me dizia que eu não era bom o SUFICIENTE e que tudo que eu fazia só a IRRITAVA.
Depois, veio o silêncio. Dela, claro, porque eu só fazia FALAR. E ela só me olhava, com desaprovação. E tudo que eu fazia, afastava um pouco mais o OLHAR dela... E então, de repente, ela se afastou INTEIRA.
Foi quando abri os OLHOS. Os meus. E vi em que mundo me havia metido. Foi quando eu VI, finalmente, o que eu havia feito comigo mesmo: tomado de uma paixão AVASSALADORA, abandonei toda minha percepção das coisas. De fato. E, ao abandoná-las, não sabia que podia colocar muito mais em RISCO. E pus.
Na IGNORÂNCIA da paixão, acalentado por um sentimento que não era RECÍPROCO e ridiculamente abandonado, ajuntei-me aos vermes, aos farrapos humanos e lá fiquei, gostando da sensação do SUBTERRÂNEO.
Tudo agora era SUJO, PERVERSO, SACANA. Tudo era imoral, inútil e pérfido. Tudo agora era a mais perfeita HONESTIDADE. A minha mais PERFEITA honestidade.
Ela se foi, sim, mas o que me legou, senhoras e senhores, é muito mais do que jamais poderia desejar. É muito maior do que qualquer fato que pudesse, na CLARA ignorância de minha vida anterior.
Fato que quanto mais sujo, mais gostava. Quanto mais improvável, melhor. Quanto PIOR, melhor. Quando ela se foi e tudo se perdeu, foi que pude perceber o quanto eu havia ganhado. Perdê-la foi a melhor coisa que me ocorreu.
Em minha DÉBIL loucura, tudo fazia sentido, havia respostas para tudo. Em minha frágil INSANIDADE, tudo era CLARO.
Finalmente tudo fazia SENTIDO. Era isso que queria, ver, através de olhos INCONSEQÜENTES, saber o que se passava em todos os lugares... saber o que aconteceria em seguida. Com tal ou qual pessoa. Era o que conseguia fazer.
E foi quando me acharam, jogado numa rua, andava profetizando, vírgula, ESCLARECENDO, o que me atingia as retinas.
Talvez fosse demais para eles. E era. Quando me encontraram, me agarraram, me puseram em uma camisa-de-força. Era o mínimo que podiam fazer, eu estava por demais ACIMA de todos eles.
Me obrigaram a tomar COMPRIMIDOS coloridos, líquidos amargos e coisas afins. Me obrigaram a falar com pessoas, a contar o que VIA para, em seguida, OUVIR, daquelas mesmas pessoas que eu era louco. Que o que eu VIA, e eles OUVIAM, não poderia ser a mesma coisa; que eu certamente estava ALUCINADO. Completamente abstraído de qualquer LUZ da razão.
Então, eles me CURARAM. Me devolveram à NORMALIDADE. E foi quando tudo parou de importar.