28.4.04
Sociopata
Olhava despreocupadamente os laticínios quando, entre os potes de iogurte e os blocos de manteiga, saltaram-lhe aos olhos dúzias de copos de vidro barato com desenhos da turma da Mônica e da Pequena Sereia: REQUEIJÃO! Repentinamente, aquele desejo, que ele julgava superado após tantos anos de tratamento, lhe voltou ainda mais voraz; precisava ter todos os fechos de resina das tampas.
Tentou controlar-se, afastou-se das geladeiras, foi olhar a seção de enlatados, cheirou todos os peixes expostos para esquecer daquele cheiro -o doce aroma de plástico, a essência do requeijão naquele arzinho que escapa pelo buraquinho que o fecho fecha, o barulho suave que se ouve quando se descola o fecho-, pesquisou preços de desinfetantes de privada e procurou por cabos de vassoura.
Mas não! Todos os esforços pareciam vãos. Monte e montes de dinheiro -cifras realmente inimagináveis- gastos com psicanalistas, psiquiatras, psicólogos e todos os outros tipos de psis que há. Anos sem freqüentar a seção de laticínios, anos sem pensar em... fechos de requeijão. Tudo por água abaixo.