23.4.04
Fixamente
Dei alguns minutos de desbaratino antes de olhar para eles. Continuavam lá, olhando. Mas, agora, disfarçadamente. Provavelmente ela notou que eu notei. Então eu comecei a olhar pra ela, também. Quando ela olhava, eu desviava. Quando ela parava, eu voltava. E vice-versa.
Abre parênteses: me senti na sexta série fazendo isso, mas é bom um pouquinho de conquista infantil, às vezes. Fecha parênteses.
Nunca a tinha visto. Pelo jeito que me olhava, acho que ela também não... Bonita. Aliás, bem bonita. Às vezes eu me perco em pensamentos retóricos demais e me perco no pensamento. Acho que não ficou claro: algumas mulheres me tiram do sério. E me impedem de raciocinar completamente. Foi o que aconteceu.
Ela tinha um ar inteligente extremamente sexy e eu fiquei imaginando ela colocando a haste do óculos gatinho na boca, mordiscando, com um semi-sorriso, lingerie provocante. E volta pra realidade! É que eu não tava mais conseguindo me concentrar em nada, só pensava em tirar toda a roupa dela, beijá-la de cima a baixo e todas as coisas bregas que se lê por aí em sites de contos eróticos. Mas ela aparentemente conseguia prestar atenção em outras coisas. Levantou a mão e fez uma pergunta. Boa, inclusive.
Atenção, ela faz perguntas inteligentes. Então aquele ar intelectualóide procede. Legal, bom saber. Agora, além de querer tirar a roupa dela e beijá-la de cima a baixo (lembram do site? Então, a mesma coisa...), eu também queria conversar com ela. Depois de fodê-la loucamente, evidentemente.
Fim da aula. Ela saiu antes que eu. Por trâmites burocráticos desinteressantes, fiquei preso alguns momentos a mais na sala. Saí correndo desesperado (é incrível o nível de irracionalidade que se atinge em momentos de alto excitação sexual. Que necessidade havia de ficar desesperado?), procurando por aqueles olhos de jaboticaba (brega, em?), olhando para todos os lados.
Saí da faculdade quase aos prantos (como assim??? Pára de ser ridículo!) e vi, que logo ali, na esquina, ela estava me olhando. Ainda. Sempre. Me acalmei, me recompus e me encaminhei até ela. Agora ela sorria também. Sorria bonito. Um sorriso largo, desses que iluminam a sala, sabe? Pois é, desses.
-Escuta, tem um boteco legal aqui do lado. É um boteco, mas a cerva é gelada, as mesas são limpas e o preço é bem honesto. Aliás, é o meior atrativo do pico...
-Você tá me convidando pra sair? Assim, na caruda?
-Sim.
-Ah, e onde é?
-O quê?
-O boteco...
-Ah, é pra lá. Vamo aí?
-Claro.
Continua. Será? Aguarde que, em breve, a conclusão desse conto erótico deserotizado.