2.4.04
Cortiço
O ambiente era tão pesado que chegava a oprimir. Também dificultava a respiração, parecia que o ar era mais rarefeito lá; além de extremamente úmido. Também tinha um leve (leve?) cheiro de mofo, mas não era tão determinate quanto os outros. Talvez esse fosse apenas um cheiro conjuntural. Eram os outros dois que caracterizavam perfeitamente a aura do local.
Era um prédio baixo, talvez três ou quatro andares. Isso não importa, a ação se passa toda no segundo andar. Nunca gostei muito de números pares. Fato rápido: a língua inglesa é bem engraçada com relação a pares e ímpares. Os pares são os even numbers e os ímpares, os odd numbers. Ou, números iguais e números estranhos, respectivamente. Quer dizer, pensando bem, o português também é meio assim: se uma cois é inigualável, ela pode ser considerada ímpar. Enfim...
Nunca gostei muito de números pares, de qualquer forma. Mas fazer o quê? Há situações na vida em que não podemos escolher as coisas. As coisas não podem ser sempre do meu jeito. Não havia o que fazer, apenas subir ao segundo andar e procurar a tal moça que tinha conhecido uns dias antes num desses botecos bem fodidos. Aliás, nem me lembro porque estava lá, só lembro que ela entrou meio afoita, meio bêbada...
Chegou perto e me beijou... bom, TIVE que beijá-la de volta. Depois ela me deu um endereço -desse prédio, mas só saberia quando chegasse lá- e me pediu que fosse lá dois dias depois, à tarde. Mas quanto à tarde? Ah, depois do meio-dia, antes das sete... tudo bem. E foi embora...
Bem, ali estava, tentando respirar naquele ar pesado, viciado e fedendo a mijo e perfume barato. E procurando por ela. E tinha medo de não me lembrar do seu rosto. Ah, mas ela se lembraria do meu. Ou não. Que PORRA eu tava fazendo ali???? Olha esse lugar!!! Que inferno!
Mas ela apareceu, me beijou de novo e me levou prum quarto. Puxa, eu pensei que a gente fosse trepar loucamente, mas não. Fato que foi meio broxante, mas agora já estava mais curioso que excitado... A gente entrou no quarto, e ela já sacou um baseado do bolso.
Acendeu, deu duas bolas e me passou. Hum, o cheiro do banza era bom, um leve toque de haxixe... dei um pega e fato que era hash mesmo. Não consegui conter um sorriso, afinal, fazia um bom tempo que não fumava um hash. Isso sem falar que a maconha do baseado também era da verde.
Ela me pediu uma grana. Como assim? Ela PRECISAVA comprar heroína. Quéisso???? Tá louca???? Vaisifudê!!! Caralho, filhadaputa!
Saí fora e ainda levei o banza comigo, ah!, tem cabimento???