11.3.04
Todo homem tem seu preço. Será?
Ah, não sabe. Bom, conforme eu for contando, explico melhor. O fato é que, por volta das quatro da tarde, começou a chover. E chovia aos cântaros.
Pausa. Beleza, finalmente consegui usar a expressão "chovia aos cântaros", achei que só ia ouvir gente velha usando. Fato rápido: cântaro vem do grego, kántharos, pelo latim cantharu, é um substantivo masculino e um "vaso grande e bojudo, com uma ou duas asas, de barro ou de folha, para líquidos" (fonte: Dicionário Aurélio).
Retomando: chovia pacas. Não que chovessem pacas, mas chovia muito; foi o que quis dizer. E sabe como é São Paulo, caem três gotinhas e, num piscar de olhos, todas as pessoas saem com seus carros à rua só pra poder ficar todo aquele congestionamento. Até porque a cidade quase não tem problemas com enchentes...
Com um trânsito desses, fica impossível sair (olha a desculpa esfarrapada aí...). E eu tenho responsabilidades, tenho coisas a fazer e contas a pagar. Mas não queria fazer. como já disse, estava com um pouco de medo. Claro que isso é uma bobagem, afinal, não sou nenhum amador e já fiz isso diversas vezes. Será que eu tou perdendo meu feeling pra essas coisas? Claro que não! Preciso parar de ser um imbecil.
Mas é que, nessas condições, até um cara mais calejado como eu se assusta. Não é todo dia que um pai encomenda a morte da filha. Única. E pede requintes de crueldade. Eu devia é cobrar mais caro por esse tipo de serviço. PORRA! O cara devia era conversar com um psicólogo sobre isso, não me contratar pra matar a guria.
Enfim, eu disse que sou um profissional. Talvez nem tanto. Mas depois eu descobri que o cara nutri um amor incondicional pela filha, com uma sexualidade incontornável e, sendo um cara muito cristão, preferia vê-la morta a fazer qualquer coisa com ela. Antes uma morte nas costas que um incesto. Sei lá, cada louco com sua mania.
Fato que, no dia seguinte, eu devolvi a grana e disse que não podia fazer...