Quando eu era criança e adolescente, queria ser escritor. Na verdade, eu queria ser poeta. Mais que isso: queria ser um puta poeta. E me julgava um puta poeta... e tudo que escrevia, embora no fundo considerasse tudo uma merda, achava que era -ou poderia ser- revolucionário. Achava, de verdade, que iria revolucionar a poesia, que iria inaugurar um novo movimento literário e que, só depois que morresse -afinal, não queria perder a aura de gênio incompreendido à frente do seu prórpio tempo- as pessoas leriam meus escritos e pensariam: "Puxa, realmente ele era foda e tal..." Igual a vários outros poetas adolescentes. Na verdade, eu queria ser o Álvares de Azevedo. Claro que eu não queria morrer virgem igual, mas eu queria ter -e tinha- os mesmos desejos de morte e toda aquela baboseira do mal-du-siècle. Quer dizer, baboseira em termos, ainda acho maior legal. Mas não pra mim. E depois eu até fui melhorando, mas sempre achando que iria, de fato, revolucionar a poesia. Eu comecei a estudar um pouquinho mais de literatura, a saber um poquinho -e bem pouquinho mesmo!- dos movimentos literários e, aí sim, fiquei prepotente mesmo... porque aí via o que tinha mudado e o que não tinha e comecei a tentar trabalhar os meus textos no sentido de evoluir o que ainda não havia sido evoluído. Tudo em vão. Mas tudo bem, abandonei a poesia mesmo. Comecei a escrever prosa e fodeu tudo. Aí fiquei revoltado e desencanei de querer ser reconhecido. Me desiludi...