24.1.04
De manhã não tinha sobrado nada... só um monte de panos amontoados num canto, sujos e embolotados, amassados. Provavelmente estavam fedendo, mas não tive o sangue frio de cheirar. Era uma cena bem desagradável. Quer dizer, seria, se não fosse tão comum.
Ao menos uma vez por semana acontecia. Infelizmente, menos do que desejava. Talvez diariamente fosse uma boa base de cálculo inicial. Mas dependia da vontade dela. Única e exclusivamente dela. Quando ela quer, ela vem. e não há nada que eu possa fazer pra mudar isso. Quer dizer, até posso tentar convencê-la a vir, mas sem nenhuma garantia.
Mas, mesmo assim, ela sempre vem. No fundo, acho que ela também não resiste. Mas é bem estranho quando ela vem. Na verdade, ela parece uma estranha, age como se sempre fosse a primeira vez que a gente se vê.
Eu preciso parar de contar essa história por alguns instantes e extravasar minha ira. E indignação... cara, eu tou ficando velho ou o roquenrou tá mesmo ficando uma merda pra adolescente babaca gastar o dinheiro dos pais? PORRA, quando eu era moleque ouvia umas barulheiras de foder a cabeça tipo Slayer, Motörhead (holyshitmuthafucker, uma banda com trema!!!!), Metallica, Megadeth (a banda do coração, olha que meigo), e outras barulheiras a fim. Hoje, você liga numa dessas rádios rock e ouve CPM 22, Evanescence, Linkin' Park, putaquepariu! Ninguém merece umas merdas dessas... Pelo menos superamos os New Radicals (ei, alguém se lembra deles? Eram aqueles mauricinhos que tocavam rock de mauricinho e queriam fazer revolução - eram os novos radicais. Num shopping center...) Os caras conseguiram enlatar desde o roquenrou simples até o hard-core (e dizem que CPM é uma banda de hard-core romântico. Imagina o Buzzcocks ou o os Descendents cantando essas merdas que o Badaui -esse é o nome do bróder?- canta...) e também o punk e o metal... não lembro onde eu li, mas achei mestre: Evanescence é a Sandy e Jr. do metal. E o pior é que a Sandy é muito mais gatinha que aquela baranga metida a gótica. Lembrei onde eu li, foi aqui.
Enfim, ela chega e me cumprimenta, me dá sempre um beijo no rosto. Sem abraço ou demonstrações mais afetuosas. Tira o casaco e sempre põe no mesmo lugar, em cima da minha poltroninha. É uma poltroninha legal, meio comprida, dá pra se esticar, ler um bom livro e puxar um ronco se o livro não for tão bom assim. Acho que vou pôr mais perto do som, aí dá pra curtir uma sonzeira nos fones, que é bem legal.
Depois ela senta, tira os sapatos e vai até a cozinha. Que é longe pra caralho da sala: quatro passos. Dos meus, ela deve dá uns quatro e meio. De qualquer forma, ela vai até a cozinha, sempre descalça -acho que ela gosta do chão frio- e volta com duas brejas. O bom da sua casa é que você escolhe as prioridades. A minha é cerveja. Sempre tem. E sempre tem gelada. E, melhor, sempre tem a marca que eu gosto. A minha sorte é que gosto de uma marca mais barata. Abre parênteses: não, eu não tomo Kaiser, PORRA!
É bom poder tomar uma cerva gelada e poder olhar nos olhos dela. Bem fundo. Sei lá a presença dela e da breja me despertam coisas boas ainda, apesar de tudo. É como se de repente eu me acalmasse, e perdesse todo aquele mal-estar que fica no corpo. Sei lá, talvez eu passe muitas horas na frente do computador.
Depois de tomar a cerveja a gente acaba conversando. PORRA, a gente é amigo, afinal. Quer dizer, sei lá, a gente já foi amigo um dia. Bem amigo, até; ela foi a melhor amiga que eu já tive. Mas agora é diferente. Não chega a ser aquela coisa fria, nem por obrigação, mas é diferente. Desde o acidente é diferente.
Quanto tempo já faz? Cinco ou seis anos. Talvez sete. Não lembro, o cérebro tem umas coisas dessas: ele bloqueia algumas memórias indesejadas. Claro que não é nesse nível. Ele apaga, ou melhor, muquia, as lembranças e os detalhes de eventos traumáticos. Não a data...
É, acho que ela ainda se sente culpada por aquilo. Bom, eu, no lugar dela, me sentiria. Não é todo dia que você aleija a pessoa que você ama. Deve ser por isso que a gente se sente diferente: na verdade, eu nunca a perdoei por aquele dia. Eu nunca aceitei isso, mas é a verdade. Eu sempre tentei fingir que tudo bem, que afinal, o que é um par de pernas... mas não. Foi, sim, crucial pra mim e, desde então é difícil ficar perto dela. Claro que eu gosto, mas é difícil.
E, além disso, nada me tira a certeza de que ela só volta aqui, na verdade, por sentimento de culpa. Ah, e pena de mim, o que, particularmente, dispenso. Realmente não faço questão da pena dela. Sou um aleijado, sim, mas não tou morto e não deixei de fazer as coisas... nada. Só trepar e mijar. Cara, eu odeio essa sonda!
E ela veio recolher a minha roupa suja que ela ainda insiste em levar pra lavar. Não sei que tipo de prazer ou favor ela vê nisso, mas deixo.
Ao menos uma vez por semana acontecia. Infelizmente, menos do que desejava. Talvez diariamente fosse uma boa base de cálculo inicial. Mas dependia da vontade dela. Única e exclusivamente dela. Quando ela quer, ela vem. e não há nada que eu possa fazer pra mudar isso. Quer dizer, até posso tentar convencê-la a vir, mas sem nenhuma garantia.
Mas, mesmo assim, ela sempre vem. No fundo, acho que ela também não resiste. Mas é bem estranho quando ela vem. Na verdade, ela parece uma estranha, age como se sempre fosse a primeira vez que a gente se vê.
Eu preciso parar de contar essa história por alguns instantes e extravasar minha ira. E indignação... cara, eu tou ficando velho ou o roquenrou tá mesmo ficando uma merda pra adolescente babaca gastar o dinheiro dos pais? PORRA, quando eu era moleque ouvia umas barulheiras de foder a cabeça tipo Slayer, Motörhead (holyshitmuthafucker, uma banda com trema!!!!), Metallica, Megadeth (a banda do coração, olha que meigo), e outras barulheiras a fim. Hoje, você liga numa dessas rádios rock e ouve CPM 22, Evanescence, Linkin' Park, putaquepariu! Ninguém merece umas merdas dessas... Pelo menos superamos os New Radicals (ei, alguém se lembra deles? Eram aqueles mauricinhos que tocavam rock de mauricinho e queriam fazer revolução - eram os novos radicais. Num shopping center...) Os caras conseguiram enlatar desde o roquenrou simples até o hard-core (e dizem que CPM é uma banda de hard-core romântico. Imagina o Buzzcocks ou o os Descendents cantando essas merdas que o Badaui -esse é o nome do bróder?- canta...) e também o punk e o metal... não lembro onde eu li, mas achei mestre: Evanescence é a Sandy e Jr. do metal. E o pior é que a Sandy é muito mais gatinha que aquela baranga metida a gótica. Lembrei onde eu li, foi aqui.
Enfim, ela chega e me cumprimenta, me dá sempre um beijo no rosto. Sem abraço ou demonstrações mais afetuosas. Tira o casaco e sempre põe no mesmo lugar, em cima da minha poltroninha. É uma poltroninha legal, meio comprida, dá pra se esticar, ler um bom livro e puxar um ronco se o livro não for tão bom assim. Acho que vou pôr mais perto do som, aí dá pra curtir uma sonzeira nos fones, que é bem legal.
Depois ela senta, tira os sapatos e vai até a cozinha. Que é longe pra caralho da sala: quatro passos. Dos meus, ela deve dá uns quatro e meio. De qualquer forma, ela vai até a cozinha, sempre descalça -acho que ela gosta do chão frio- e volta com duas brejas. O bom da sua casa é que você escolhe as prioridades. A minha é cerveja. Sempre tem. E sempre tem gelada. E, melhor, sempre tem a marca que eu gosto. A minha sorte é que gosto de uma marca mais barata. Abre parênteses: não, eu não tomo Kaiser, PORRA!
É bom poder tomar uma cerva gelada e poder olhar nos olhos dela. Bem fundo. Sei lá a presença dela e da breja me despertam coisas boas ainda, apesar de tudo. É como se de repente eu me acalmasse, e perdesse todo aquele mal-estar que fica no corpo. Sei lá, talvez eu passe muitas horas na frente do computador.
Depois de tomar a cerveja a gente acaba conversando. PORRA, a gente é amigo, afinal. Quer dizer, sei lá, a gente já foi amigo um dia. Bem amigo, até; ela foi a melhor amiga que eu já tive. Mas agora é diferente. Não chega a ser aquela coisa fria, nem por obrigação, mas é diferente. Desde o acidente é diferente.
Quanto tempo já faz? Cinco ou seis anos. Talvez sete. Não lembro, o cérebro tem umas coisas dessas: ele bloqueia algumas memórias indesejadas. Claro que não é nesse nível. Ele apaga, ou melhor, muquia, as lembranças e os detalhes de eventos traumáticos. Não a data...
É, acho que ela ainda se sente culpada por aquilo. Bom, eu, no lugar dela, me sentiria. Não é todo dia que você aleija a pessoa que você ama. Deve ser por isso que a gente se sente diferente: na verdade, eu nunca a perdoei por aquele dia. Eu nunca aceitei isso, mas é a verdade. Eu sempre tentei fingir que tudo bem, que afinal, o que é um par de pernas... mas não. Foi, sim, crucial pra mim e, desde então é difícil ficar perto dela. Claro que eu gosto, mas é difícil.
E, além disso, nada me tira a certeza de que ela só volta aqui, na verdade, por sentimento de culpa. Ah, e pena de mim, o que, particularmente, dispenso. Realmente não faço questão da pena dela. Sou um aleijado, sim, mas não tou morto e não deixei de fazer as coisas... nada. Só trepar e mijar. Cara, eu odeio essa sonda!
E ela veio recolher a minha roupa suja que ela ainda insiste em levar pra lavar. Não sei que tipo de prazer ou favor ela vê nisso, mas deixo.